PLANTAR PEIXES FARÁ NASCER O MAR ONDE O MPLA QUISER

As boas práticas de gestão empresarial e os projectos com impacto no desenvolvimento económico e social angolano voltam a ser distinguidos na 10.ª edição dos Prémios Sirius, em Abril de 2024. Dois projectos perfilam-se já como potenciais candidatos: Casas flutuantes (para derrotar as chuvas) e plantação de peixes (para fazer nascer o mar no interior do país)…

O processo de candidaturas que vai decorrer até o dia 2 de Fevereiro do próximo ano. Para a 10.ª edição, cujos vencedores serão anunciados em Abril do próximo ano, a novidade recai para o processo de candidatura em duas etapas. A primeira é a de manifestação de interesse e a segunda de submissão do formulário de candidatura para a respectiva categoria até à data limite.

A Primeira-Dama da República e presidente do júri, Ana Dias Lourenço, frisou que num ambiente económico e social em constante mudança, o caminho do progresso deve incorporar o reconhecimento do esforço e da resiliência das organizações e das personalidades que mais se destacaram na criação de valor e na dinamização da diversificação da economia.

“Hoje, nesta apresentação pública da 10.ª edição dos Prémios Sirius, destacamos precisamente a diversificação económica, a liderança e o empreendedorismo, a transformação tecnológica e digital, a capacitação humana e a responsabilidade social”, frisou.

Segundo Ana Dias Lourenço, a abertura de candidaturas, nas várias categorias, reflecte as áreas mais importantes do desenvolvimento de Angola no presente e no futuro. A Primeira-Dama referiu, ainda, que o júri vai deliberar novamente sobre a atribuição de um Prémio Especial, que visa destacar uma área de valor basilar da sociedade.

“Gostaria de enfatizar também que estes prémios são dirigidos a todas as províncias do nosso belo e vasto país. Os bons exemplos empresariais não se limitam a Luanda. Assim, convido todas as províncias a apresentarem os seus bons exemplos de gestão e de liderança”, salientou.

Por sua vez, José António Barata, o presidente da Deloitte Angola, entidade promotora do evento, adiantou que os prémios serão, uma vez mais, a prova da dedicação, do trabalho árduo e da paixão que cada organização demonstrou na sua jornada.

As organizações podem apresentar projectos, desenvolvidos em Angola ao longo do ano de 2023, nas categorias de Empresa do Ano do Sector Financeiro; Empresa do Ano do Sector Não Financeiro; Empreendedorismo; Responsabilidade Social; Gestor do Ano; Melhor Programa de Desenvolvimento Digital/ Tecnológico e Prémio Melhor Programa de Desenvolvimento do Capital Humano.

O júri da 10.ª edição dos Prémios Sirius é presidido pela Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, e conta com os jurados José Octávio Van-Dúnem, Noelma Viegas d’Abreu, Francisco Queiroz, Paula Simons, Armando Manuel e Aia-Eza da Silva.

Dentro desta perspectiva, os produtores de limpa neves para consumo interno, bem como os projectos para acabar com o achatamento polar das batatas e para o fabrico de pentes para carecas parecem ter desistido de se candidatar.

Importa, por isso, levar em consideração a tese do especialista do sector da energia, Miguel Artacho, director de conferências internacionais da Energy Capital & Power, que defende que a crise energética na Europa está a acelerar o desenvolvimento da indústria do gás e a criar mais oportunidades para Angola.

A serem aproveitadas, essas oportunidades vão revitalizar a génese do MPLA que visa pôr os escravos a trabalhar ainda mais para os poucos que têm milhões, os mesmos de sempre.

Há pouco mais de um ano, em entrevista à Lusa, Miguel Artacho, director de conferências internacionais da Energy Capital & Power, que organizou a conferência e exposição Angola Oil & Gas, destacou que a segurança energética ganhou importância crucial devido à guerra na Europa e advogou uma transição energética justa para África, onde “a fome mata mais do que o aquecimento global”. Não está mal. É, aliás, fácil ter a barriga cheia e debitar palpites sobre os milhões que a têm vazia.

A 3ª edição da Angola Oil & Gas acontece entre 29 de Novembro e 1 de Dezembro de 2022 e foi organizada pela Energy Capital & Power, juntamente com parceiros como o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (Mirempet), Associação Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG) e o Instituto Regulador dos Derivados do Petróleo, e trouxe a Luanda dezenas de especialistas, responsáveis das multinacionais mundiais e decisores políticos para debater o futuro desta indústria.

Debater o futuro é, de facto, importante. Sobretudo para os que têm futuro. Para os outros, para os milhões em que o próprio presente é passado, bastaria um prato de fuba… no futuro que nunca terão.

O responsável do evento realçou que este acontecia numa altura muito importante para Angola, num contexto pós-pandemia e em que os preços do petróleo estavam em alta, lembrando que o sector da energia que representa mais de 95% das exportações, continua a ser estratégico para a economia angolana, apesar da orientação do executivo (do MPLA) que há 48 anos promete diversificar a economia.

Miguel Artacho frisou também que a crise da energia na Europa e as mudanças geopolíticas desencadeadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia estão a obrigar todos os países a reavaliar, dizemos nós, os seus tão ambiciosos quanto falaciosos objectivos face à transição energética.

“Países como a Alemanha, que era altamente dependente do gás natural russo, e outros como países da Europa de Leste, tiveram de despertar para as necessidades de diversificar as suas fontes de gás natural devido às sanções que foram impostas”, notou.

O que oferece oportunidade não só para Angola, um dos maiores produtores de petróleo da África Subsaariana que tem também (para além do aumento do número de pobres que já é superior a 20 milhões) em curso grandes projectos na área do gás, como o Angola LNG, mas também para outros produtores africanos como a Nigéria, Guiné Equatorial, República do Congo, que assistem a um renovado interesse dos antropófagos internacionais nas suas capacidades para abastecer os mercados mundiais com gás natural.

Não será no imediato, admitia Miguel Artacho, já que o défice de gás russo está a ser compensado pelos países mais avançados em termos de infra-estruturas e `pipelines` como os EUA, Qatar e Argélia.

“Mas não quer dizer que outros países como Angola não venham também a beneficiar, já que esta situação vem transformar radicalmente a possibilidade desses países se industrializarem. Mesmo países que não tinham terminais de LNG, como a Alemanha, aceleram drasticamente o ritmo das construções para concretizar essas infra-estruturas e Angola está preparada para atrair investimentos”, considerou o responsável, acrescentando que “o sector energético da África Subsaariana e a indústria do gás natural, em particular, estão num momento muito crítico em que podem ajudar o mundo a melhorar a segurança energética”.

Miguel Artacho, mostrando que em matéria de Angola é um especialista também no achatamento polar das batatas, apontou algumas vantagens comparativas de Angola, entre as quais um governo pró-negócio, estabilidade política (só contaram para ele) e segurança enquanto outros grandes produtores tiveram problemas de `force majeure` (eventos extraordinários que não obrigam a compensação) ou insegurança, como raptos e roubos.

“Desde o início que o Governo de João Lourenço tem promovido iniciativas para reorganizar o sector de petróleo e gás e promover maior transparência e eficiência. Acho que há um enorme interesse e potencial para novos investimentos, não só no petróleo e gás, mas em todo o sector da energia, incluindo as renováveis”, realçou, lembrando que operam em Angola todos os grandes predadores (ele fala em operadores) do sector, como a Chevron, Exxon, Total Energies, e a nova Azule, `joint venture` da italiana Eni e a britânica BP, bem como outros `players` como a norueguesa Equinor e, claro, a petrolífera do MPLA, Sonangol.

Quanto ao ritmo da transição energética, defendeu que “não podem ser os europeus e os americanos a dizer a África o que deve fazer”, criticando alguma “hipocrisia”.

“Muitos países europeus estão a queimar mais carvão do que nunca. A Alemanha pôs em funcionamento uma série de centrais térmicas que usam lignite, o tipo de carvão mais poluente”, afirmou, acrescentando que não pode haver dois pesos e duas medidas.

“Temos de ter uma transição energética flexível e igualitária, ou seja, é importante que os países produtores de petróleo e gás mudem para energias mais limpas e sustentáveis, mas devem fazê-lo ao mesmo tempo que dão resposta a grandes problemas como a pobreza. A fome mata mais do que o aquecimento global”, disse, assinalando que os EUA e o Reino Unido se industrializaram à custa da queima de combustíveis fósseis, tal como a China, um dos grandes responsáveis pelas emissões de gases com efeito de estufa.

Enquanto isso, na África Subsaariana 600 milhões de pessoas não têm acesso a energia.

“Não estou a dizer que devem fazer a mesma coisa, mas é importante perceber que a tecnologia de petróleo e gás melhorou muito, e que o gás pode ser uma das fontes de energia com tecnologias mais eficiente em termos de custos e menos poluente”, salientou Miguel Artacho.

Para o responsável do Angola Oil & Gás, os produtores africanos de petróleo e gás não estão numa posição de fornecer energia aos seus países só com a solar e a eólica: “Não é prático, é impossível. Mas não significa que não haja espaço para isto. Há excelentes projectos na área solar em Angola e potencial também no hidrogénio, ainda que numa fase inicial”.

Quanto ao ambiente de negócios, admitiu que “Angola não é perfeita”, mas está no caminho certo. Isto significa que o MPLA deve continuar a trabalhar para os poucos que têm muitos milhões e não, como nos últimos 48 anos, para os muitos milhões que têm pouco ou… nada.

“É uma economia emergente. Há corrupção em toda a África Subsaariana, mas há esforços para continuar a promover a transparência, a apoiar a estabilidade económica e previsibilidade e continuar a trabalhar com as companhias que estão cá e que estão interessadas no sucesso a longo prazo deste sector e que têm o capital e conhecimento que podem ajudar Angola a desenvolver-se, integrando conteúdo local, promovendo a angolanização. É isso que precisa de ser feito para alcançar o máximo potencial”, rematou.

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